quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Como lidar com a sinceridade das crianças






Já ouvimos diversas vezes a frase "Criança é cruel". Em algum outro momento alguém solta "Criança não mente" ou "Criança é sincera". Elas são na verdade indivíduos que ainda não foram moldados conforme a sociedade. Não existe neles ainda o filtro que teoricamente todo adulto sensato deveria ter.Crianças são puras por natureza. Falam o que falam conforme sua visão de mundo. Dizem o que vem a sua cabeça sem pensar. Muitas vezes imitam puramente aqueles que as educam.

E aí mora o perigo. Adultos preconceituosos ou "no sense" vão educar crianças provavelmente iguais a eles. É preciso que quem educa perceba que existe uma linha muito tênue entre ser sincero e ser cruel.

Explicar desde cedo para as crianças que determinadas coisas não se dizem, que nem tudo devemos dividir abertamente com todo mundo é essencial. Há pensamentos que são particulares e não devem ser repartidos com pessoas estranhas ou grupos muito grandes.

Não estou dizendo que devemos ensinar nossos filhos a mentir. Deve-se ensinar a eles que falar a verdade muitas vezes machuca e não convém. Determinados assuntos são específicos de cada um e deve-se mostrar aos pequenos que não cabe a nós sairmos abrindo as feridas alheias.

Detesto pessoas que falam tudo que vem a mente sem pensar nas consequências de suas palavras e ainda tem a petulância de dizer "Não falei para você, mas se a carapuça serviu...". 

A função dos pais é educar pessoas de bem que venham a agregar positivamente para a sociedade. Não precisamos de mais espíritos destruidores. Há vários adultos barbados que carregam a bandeira de que são sinceros acima de tudo. "A verdade doa a quem doer". Outro dia uma colega que adotou um menino relatou que o marido havia se arrependido da adoção. Mas não bastasse isso, ele teve a coragem de dizer inúmeras vezes para a criança que "maldita a hora em que resolvi adotar você". Será que em um mundo tão cheio de crueldades, devemos ainda instigar esse tipo de comportamento? Imaginem o psicológico deste menino. Uma criança não vê maldade sozinha. Ela é levada a ver e aceitar a vida a partir daquilo que faz parte do seu entorno.

Outra amiga me falou sobre o constrangimento que passou com seu filho de 5 anos. Ele, ao ver uma senhora acima do peso falou: "Mamãe, aquela mulher é muito gorda". Minha amiga ficou com muita vergonha e torcendo para que a senhora não tivesse ouvido o comentário. O fato de a senhora ser gorda não muda em nada a vida do pequeno e das pessoas que não a conhecem. Mas certamente se ela ouviu o que o garoto disse, se sentiu mal. Afinal, ela pode sofrer de obesidade mórbida, ter dificuldades para emagrecer ou simplesmente aceitar o peso que tem.

Devemos ensinar em casa para que nossos filhos não saiam ferindo através de palavras os coleguinhas na escola. O universo escolar é um prato cheio para os atos de bullying. Qualquer colega que seja diferente provavelmente irá sofrer com as ofensas dos demais. Crianças negras, obesas, com necessidades especiais, altas demais, que usem óculos, que não tenham pai certamente vão ouvir algum comentário desagradável dos demais. Alguns pais dirão que cabe a escola instruir as crianças a conviverem bem. Minha opinião é a de que a escola ensina mas quem educa é pai e mãe. O fato é que crianças falam. Falam tudo e de tudo. São justamente os pais que precisam ensiná-las que nem tudo deve ser dito. Crianças não devem confundir sinceridade com grosseria. A sinceridade no seu extremo machuca. 


Sabe aqueles adulto sem noção? Aquele que pergunta às mulheres gordas se elas estão grávidas? Ele está no trabalho, na roda de amigos, ou é algum parente. Sempre é tachado de chato ou desagradável. Sabe por quê? Provavelmente por nunca ter recebido orientação quando deveria. Sido instruído de que existem verdades cruéis e que não cabe a nós julgar o que é certo ao outro. Cuidado com o conceito de sinceridade que você usa com seu filho. Amanhã ele pode ser um adulto dito sem noção e você provavelmente em algum momento será alvo da sinceridade dele.

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