terça-feira, 15 de setembro de 2015

Como explicar que Vovó foi morar no céu?

Há poucos meses passamos por uma perda muito grande em nossa família. A avó dos meninos veio a falecer. Fazia certo tempo que ela estava doentinha, mas o fato é que, por mais que nós já soubéssemos que isso iria acontecer, nunca estamos prontos para encarar a morte.

O que eu nunca havia pensado neste tempo de "preparação" era em como agir com relação ao assunto com minha filha de 3 anos e meio. Dias antes da vovó nos deixar, Raquel vinha perguntando sobre a ausência da vó que já se encontrava hospitalizada em estado grave. Dizia que queria ver ela e que estava com saudades. Explicamos que a vovó estava no Hospital com dodói. Mas como dizer que a vó talvez não voltasse?



Quando minha sogra veio a óbito de fato, ficamos em estado de choque. Ela era uma figura muito alegre e feliz nas nossas vidas. Amava demais os netos.
Veio a questão: Levar ou não as crianças no velório? A resposta para Samuel veio fácil. Não, ele é muito bebê.

E Raquel?
Também não a levamos. Ficamos com medo que ela ficasse impressionada. Achamos que era melhor ela guardar a imagem da avó bem.
A única conversa que tive com ela no dia foi mais ou menos assim:

Mamãe: Raquel, a vovó foi morar com o Papai do Céu.
Raquel: quando ela vai voltar?
Mamãe: ela não vai voltar.
Raquel: (ela querendo chorar) mas eu quero que ela volte...vou ficar com saudade...

Eu não soube o que dizer. Acabei desviando do assunto.
Conforme os dias foram passando e ela foi perguntando, a explicação foi ficando cada dia maior

Mamãe: "vovó foi morar com o Papai do céu. Virou uma estrelinha."
Raquel: Ela é uma estrelinha brilha brilha mamãe?
Mamãe: sim, a mais brilhante lá do céu.
Raquel: (ela olha para o céu) tchau vovó!!!

Com o tempo começamos a notar mudanças no comportamento da pequena. Já não queria comer direito.

Raquel: A vovó Déda que sabia fazer sopa pra mim. A vovó Déda fazia sagu pra mim né mãe?

Começou a ficar mais agressiva. Chorando por qualquer coisa. Na escola também fomos chamados para conversar. Segundo as professoras, a pequena tinha medo de que nós não fossemos mais buscá-la ao final do dia. Cada vez que íamos deixá-la na escola era outro momento difícil. Se grudava em nós e não queria entrar.

Procurei um psicologo que orientou a deixar bem claro para ela que a avó não voltaria mais. Explicar que apenas as pessoas muito doentes e bem velhinhas morrem. Claro que os jovens também nos deixam. Mas segundo ele, teríamos tempo para que ela fosse crescendo e entendendo o processo da morte. Ele também aconselhou que em alguns casos levar a criança até o túmulo de quem partiu ajuda a fechar um ciclo. Não fizemos isso. Neste momento, eu acho que acabaria confundindo ainda mais ela. No sentido de como é que a vó está na terra e ao mesmo tempo no céu.

Outro dia eu e Raquel fazendo atividades...
Raquel: (falando com o desenho dela) eu vou dar beijo e abraço e prometo que vou comer tudo vó.
Mamãe: Com quem você está falando Raquel?
Raquel: Com a minha vó.
Mamãe: Qual vó?
Raquel: A vovó Déda.
Mamãe: Você sabe onde a vovó está?
Raquel: No céu. Mas eu vou plantar um pé de feijão pra gente ir lá em cima. Daí eu vou dar um beijo e um abraço. Você vai comigo mamãe?

Nessas horas os olhos enchem de água. Saí de perto para não chorar. Outro dia ela pergunta para o avô

Raquel: (avô amarrando o tênis dela) Vovô, você sente falta da vovó?
Avô - desconversa...
Raquel: Vovô, né que a vovó Déda faz muita falta?
Avô: (enche os olhos de lágrimas) é...por isso que o vovô reza bastante.

Uma hora ou outra ela sempre sai com as frases dela, cheias de saudade. Nós, vamos conduzindo da maneira mais sutil possível. Contamos com a escolinha que vem trabalhando o tema com ela. Mas no fundo, acho que ela ainda não entendeu como é que ela não pode pegar um avião ou subir num pé de feijão para ir lá no céu só para dar uma abraço e um beijo na vovó e voltar.

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